Nas trincheiras da ideologia: militarização escolar e a batalha pelo futuro
Nenhuma mudança na ordem social, por mais repressora que seja em seu processo de estabelecimento, ocorre somente por meio da força física. Ela é resultado de uma longa luta travada no campo das ideias, em que o vencedor conquista a adesão do maior número de adeptos, sedimentando o terreno sobre o qual se construirá a transformação futura.
Cientes disso ou não, as fileiras reacionárias têm atuado fortemente na formação de quadros ideologicamente controlados, o que, no Amazonas, encontrou sua mais eficiente forma por meio da militarização dos sistemas de ensino.
Sabe-se, pelo menos desde Althusser, que a educação é um aparelho ideológico do Estado. Em sua prática, ela introjeta nos indivíduos as normas dominantes de uma sociedade. Utilizando-se dessa particularidade, os ideologizadores de direita apropriaram-se da escola e de seus currículos, impondo irrestritamente uma lógica voltada para expansão de seus valores.
Como normalmente acontece nesses casos, as justificativas encontram-se em algum benefício social incontestável. Aproveitando-se das limitações da educação ofertada pelo sistema tradicional, os militaristas amparam-se no rendimento escolar e nos índices obtidos em exames oficiais para expandir seus domínios. É a pseudoneutralidade educacional como argumento para a imposição de um regime ideologicamente bem definido.
No mais recente episódio de seu trabalho doutrinal, os militaristas exaltaram um ícone político de direita, chamando-o salvador da nação. Trata-se de uma explicitação conservadora sintomática dos resultados satisfatórios obtidos pelos doutrinadores. Assentados na expansão contínua de seus preceitos, eles não veem mais motivos para se esconder.
Não há dúvida de que este movimento não começou nem se expandiu nos dias de hoje. Em algum momento do passado recente, essa mudança silenciosa teve início e gerou a massa que agora se organiza em torno de uma sociedade sectária e retrógrada, a qual vem alcançando espaços cada vez mais significativos. Que se possa reverter esse estado de coisas, eis uma guerra a ser travada abertamente pelas gerações futuras. Contudo, as bases dessa revolução devem ser lançadas neste momento.