Floresta Amazônica: Ambientalismo, capitalismo e falsa solidariedade dos ricos
Por Victor Leandro
Nos últimos dias, diversos artistas e até mesmo grandes empresas se mobilizaram contra o ato de Michel Temer que extingue as unidades de conservação da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca), provocando uma comoção que resultou na suspensão temporária do decreto.
A causa é inegavelmente justa. O desmatamento na Amazônia tem aumentado a números perigosos nos últimos anos, e todas as iniciativas favoráveis à contenção desses índices devem receber apoio irrestrito. No entanto, é preciso que se faça uma observação atenta das intencionalidades presentes nesses movimentos.
Nenhuma, ou quase nenhuma das celebridades que agora se unem contra a extinção da RENCA se opuseram com tanta veemência às medidas de Temer que colocaram fim aos direitos dos trabalhadores, ou à PEC que impede investimentos em educação e saúde, isto para não falar dos que apoiaram aberta ou veladamente a saída do governo anterior e a posse do pemedebista. A rigor, trata-se de uma manifestação pontual e localizada, e não de ampla politização, e que não fere em nada as medidas aviltantes que vêm sendo tomadas há mais de um ano.
Mas o problema vai além. Numa região precarizada e abandonada pelas políticas públicas como é a amazônica, a diminuição de direitos e recursos implica necessariamente um retorno ao extrativismo, resultando numa escalada violenta de destruição da floresta. Com isso, o gesto dos artistas ricos e das empresas politicamente corretas revela-se inóquo.
A verdade é que tudo não passa de um jogo de cena e preocupações egoístas. Para essas figuras públicas, abraçar questões ambientais é bom porque agrega uma imagem positiva e de esclarecimento as suas marcas, ao passo que não abala os negócios das forças econômicas que as sustentam. Por outro lado, manter as reservas naturais parece a eles algo realmente importante, pois é garantia de que não sofrerão privações futuras. O mesmo não vale para os trabalhadores que sofrerão com regimes trabalhistas massacrantes e opressivos, os quais, sem representar qualquer benefício direto ou indireto às celebridades, ficam entregues à própria sorte.
Como bem frisou Nietzsche em uma de suas obras, não basta fazer a coisa certa. É preciso fazê-la pelos motivos certos. A preservação da Amazônia não deve ser objeto de propaganda do capitalismo pós-industrial, mas uma problemática a ser discutida com base em sua dinâmica verdadeira, com respostas efetivas para as questões que a envolvem. Assim, teremos políticas sérias para a manutenção das reservas, e não apenas simples fotos de capa em ambientes virtuais.