As eleições universitárias brasileiras e o medo da democracia

25/03/2018

É curioso notar como a universidade brasileira, tão presente nos debates nacionais em defesa da democracia, é extremamente conservadora na hora de estabelecer os processos internos de escolha de seus dirigentes, optando por fórmulas de votação que ferem sobremaneira os princípios democráticas.

São três os modelos de contagem vigentes. O mais utilizado é o voto paritário, em que cada seguimento da comunidade - professores, técnicos e alunos - representa 33% do total dos votantes. Em instituições mais retrógradas, ainda vigora o modelo proporcional, com 70% dos votos definidos por docentes. O sufrágio universal é praticamente ignorado.

Os argumentos para tais discriminações, que minimizam o poder de decisão dos discentes, vão desde a falta de governabilidade, o equilíbrio entre os grupos, até o caráter volátil da classe estudantil, que, por não ter vínculos permanentes com a instituição, não teria o compromisso necessário para uma escolha consciente.

O que os defensores de tais posições se esquecem é de que suas crenças ferem um princípio irrevogável: na democracia, não existe voto qualificado. A escolha de cada indivíduo, independentemente de sua condição econômica, hierárquica ou institucional, tem o mesmo peso que a dos demais, o que, aliás, dentro de uma sociedade de classes, é um dos raros momentos de equidade entre ricos e pobres.

Além do mais, as justificativas apresentadas não passam de meras ilações. Nada garante que a governabilidade assegurada pelos docentes deverá ser mantida ao longo de uma gestão. De igual maneira, é impossível dizer que um servidor necessariamente irá votar com maior interesse público do que um estudante - imagine isso sendo aplicado numa eleição para prefeito, com os funcionários municipais tendo a primazia na escolha para gestor da cidade -, ainda mais quando se pode facilmente inverter o raciocínio: por não ter nenhuma vantagem direta, suas opções podem ser bem mais republicanas. Assim, o que persevera nesses preceitos é tão somente a velha e elitista desconfiança para com o povo.

A democracia nunca é algo pronto. Ela deve ser construída diariamente, por meio de práticas que efetivem sua realização. Que a universidade queira ter papel atuante nessa empreitada, isso pede que ela própria se torne o modelo e o veículo-motor de uma ordem democrática. Do contrário, suas ideias jamais passarão de teoria estéril, relegada a um plano secundário no movimento real da sociedade.

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