Apenas um show: o ENEM como simulação das políticas educativas
Criado com o intuito de ser um dos indicativos para medir a qualidade da educação no Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio passou, principalmente após ser usado como vestibular por diversas universidades públicas e privadas, por um processo de empobrecimento que o converteu num dos maiores símbolos das simulações educacionais presentes no país.
Exames desse tipo são comuns em todo o mundo. No entanto, a forma de aplicação e as finalidades costumam ser bem diferentes. Na França, a prioridade do exame está no aspecto dissertativo. Já nos Estados Unidos, o SAT - Scholastic Aptitude Test - não é o único critério adotado para o ingresso no ensino superior. Histórico escolar e atividades extracurriculares também são levados em consideração.
Nada disso ocorre no Brasil. A prova, que de início se apresentava como centrada em habilidades e interpretação, tornou-se com o tempo cada vez mais conteudista, favorecendo as metodologias de ensino da já combalida escola tradicional. As instituições de ensino superior, por puro comodismo, esquivam-se de adotar critérios paralelos de ingresso, deixando aos alunos os testes como possibilidade única e decisiva de aprovação. Quanto à avaliação do ensino médio, esta a muito que foi esquecida, sendo lembrada somente por escolas privadas que utilizam os números para ranquearem-se e assumirem a proeminência no mercado educacional.
Destituído de propósitos educativos efetivos, o
que resta ao ENEM é somente virar motivo de piada para humoristas televisivos e
das novas mídias, bem como fazer a festa de cursinhos pré-vestibulares e de matérias
jornalísticas sensacionalistas. Na vacuidade de seu significado, proliferam as
formas de sua espetacularização e aparência. Nada mais coerente com um governo
que se limita a simular políticas educacionais enquanto destrói todas as suas
possibilidades de realização.